ORIENTAÇÕES DA ATIVIDADE:
Olá estudantes,
Leia o texto no anexo abaixo e depois responda as questões sobre o texto no link: https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLScMWly64YY9xnLdcoCTsoq4Jl3nQcwQHFBS_-UuVxfx6HiLTQ/viewform?authuser=1 Bons estudos!!!
Grande abraço e se cuidem,
Professor Jorge Xavier
CRÔNICA: O SEGREDO DA
PROPAGANDA É A PROPAGANDA DO SEGREDO (DE LEON ELIACHAR)
Depois de tantos anos vendo televisão diariamente,
chego a uma conclusão definitiva: é muito mais divertido e mais prático ver os
anúncios. Enquanto as outras pessoas ficam aflitas tentando decorar os horários
das novelas, das paradas de sucesso e dos chamados programas humorísticos, eu
não tenho problema: ligo a televisão em qualquer canal e vejo os anúncios sem
preocupação de horário. Vocês talvez achem que é loucura ver os mesmos anúncios
diversas vezes, mas posso garantir que os anúncios variam muito mais que as
piadas e as músicas que são servidas todos os dias. Pelo menos os anúncios são
bem bolados, alguns até inteligentes. A técnica é chatear tanto até ficarem em
nosso subconsciente — se é que alguém consegue ter subconsciente assistindo
televisão.
Os refrigerantes, por exemplo: quase todos
fazem as garrafas dançar na nossa frente e tocam uma musiquinha que chega a dar
sede. Aí a gente não resiste: vai à geladeira e bebe um copo de água.
Mas bom mesmo é anúncio de sabonete: aparece
cada moça bonita que vou te contar. E com uma grande vantagem, as moças não
falam, só aparecem, ligam o chuveiro e ficam noivas dentro da espuma. Por mais
que a gente saiba que aquilo é anúncio de sabonete, fica sempre aquela dúvida
se um dia eles não vão resolver dar o nome daquele chuveiro ou, quem sabe, o telefone
da moça.
Geniais mesmo são as geladeiras que duram toda
a vida. Mas muito mais geniais são os textos garantindo que cabe tudinho dentro
delas, mas acho que não têm tanta certeza, pois fazem questão de botar uma moça
bem bonita pra mostrar a geladeira — e a gente tem é vontade de comprar a moça,
mesmo sem o “certificado de garantia”.
E as televisões, baratíssimas, cada vez mais
vendidas, dentro dos novos planos de venda. Ao invés de bolarem uma televisão
mais perfeita, ficam é bolando planos de venda. No dia em que inventarem uma
televisão que focalize a cara de um sujeito com menos de três orelhas, não
precisam nem fazer anúncio: é só exibir, que esgota no mesmo dia.
Existe anúncio de todo tipo: tecidos que não
amarrotam, tecidos que dão prêmios, tecidos que dão desconto, tecidos coloridos
que são apresentados em preto-e-branco, tecidos brancos que ficam cada vez mais
brancos à medida que vai surgindo um novo sabão em pó. Mas é o que eles pensam:
o branco deles, lá em casa, todo mundo tá vendo que é cinza.
O mais engraçado são os anúncios de inseticidas que matam todos os insetos,
menos as moscas do estúdio.
Anuncia-se também muita banha, muito pneu,
muito perfume, muito sapato, muito automóvel, muita calça, muita bebida e muita
pílula pra dor de cabeça. Parece até que um anúncio depende do outro — é como
se fosse uma novela, com a vantagem de a gente sempre saber qual o final de
cada anúncio. E não pensem que sou o único a achar os anúncios mais
interessantes que os programas: os donos das emissoras também acham — senão não
ocupavam a maior parte do tempo com anúncios. Nos intervalos é que colocam
alguns programinhas — por absoluta falta de mais anúncios.
Reparem só: os programas de humor mostram o
lado negativo das pessoas, os personagens são quase todos fossilizados, gagos,
surdos, cegos, velhos borocochôs ou sem sexo definido. As novelas exploram
seres anormais dentro de um mundo de misérias e lágrimas. Já os anúncios
apresentam um mundo de otimismo, onde tudo é bom e saudável, não quebra, dura toda
a vida e qualquer um pode adquirir quase de graça, pagando como puder, no
endereço mais próximo da sua casa. O único detalhe que nos deixa um pouco
frustrados é que a moça que dá os endereços fala tão preocupada em não errar
que a gente não consegue decorar nenhum endereço. Em compensação, sabe de cor a
moça todinha.
Fonte:
ELIACHAR, Leon. O homem ao zero. Rio de Janeiro: Expressão e Cultura, 1968.
p.47.
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